Ao cabo de todos estes textos perdi-me nos meandros desta luta e não atino se venceu a solidão, a vontade de estar só ou simplesmente houve acordo.
Sem saber assim fico, se estou só por coacção ou opção.
De qualquer modo, acomodei-me e sentido não faria continuar a bater em ferro frio.
Vou em cruzada a outras lutas.
Nos campos de batalha dos preconceitos e loucura
(http://preconceitos.blogs.sapo.pt ou http://notyet,blogs.sapo.pt)
sem lança, sem cavalo e sem aio, conto que finalmente esmoreçam estes meus devaneios.
ATÉ
Aceitemos estas e todas aquelas que preenchem o leque intermédio, das cores brilhantes aos cinzas mais negros.
Uns herdam a dádiva de serem queridos, desejados e amados, outros não tanto.
Os meus momentos de felicidade tem sido lampejos.
Suponho por isso legitimo ansiar pela plenitude.
Numa dessas revistecas que tudo solucionam, era prometida a conquista da felicidade em dez passos, com o aval de não sei quantos cientistas e testemunho de outros tantos supostamente felizes e decerto também bem pagos.
Céptico por natureza, não deixo porém de estar aberto à mudança.
Esta atitude e a aparente simplicidade das dez tomas do milagroso milongo, umas diárias, outras semanais, embarcaram-me na experiência, entrando desde logo nas tomas diárias.
As duas primeiras seriam canja.
1) Cortar metade do tempo a visionar TV
Tirei a ficha da tomada. Dada a qualidade da programação, estava a usar para adormecer. Cá me arranjarei e, se necessitar, tomo um soporífero.
2) Tratar duma planta
Isto adoro. O problema é que trato de muitas e fico receoso do perigo da toma em excesso, mas esperançoso que daí mal não venha
3) Dizer olá a um desconhecido
Teria de sair. Sem hesitar, aperaltei-me e, todo janota contra o meu uso, desci as escadas.
Cruzei-me na porta com o tal desconhecido. Franqueei a passagem e disse OLÁ.
A primeira decepção. O tipo, carranca afivelada, olhou de soslaio, passou. Não correspondeu, nem agradeceu a gentileza.
Sem perca de tempo, saí e deparei com uma mulher ainda jovem. OLÁ, disse eu, quando se aproximou. Não olhou, levantou a cabeça e prosseguiu, certamente convencida que eu pretendia um engate.
A adrenalina começou a borbulhar e fiquei especado.
Entretanto aproximava-se uma velhinha com ar seráfico. Afivelei o meu sorriso às comissuras, sem receio de mostrar os dentes que já não são meus e, na aproximação, gorgeei o meu melhor dos OLÁS.
Boa. Parou. Fitou-me compadecida e disse:
Tenha paciência. Não tenho trocado.
Não tomo mais nada
Desisto de ser feliz por inteiro, contentar-me-ei com os lampejos. Dependendo de terceiros, o grau de dificuldade sobe em flecha.
No entanto sem responsabilidade nem garantia de êxito, estou ao dispor para indicar os restantes sete passos.
Pode dar-se o caso sejam mais “felizes” do que eu.
Tudo o que nos rodeia e os seres nossos contemporâneos, são, na realidade, geniais obras-primas.
Extasio mas o artista confunde-me! A confusão é legitima na medida em que não me é fácil compreender um criador, supremo artista, destruindo obras tão perfeitas para criar de novo, e recuso o argumento duma lenta evolução.
Porquê o nasces, vives e morres ? A forma será diversa; a sina a mesma:
NASCES entre milhões de hipóteses para que algumas resultem e entras na cadeia alimentar;
E, como se não bastasse, cria o animal humano, o mais animal de todos, concedendo-lhe favores e ferramentas que o fazem supor superior, quando na essência se reduz à mesma condição e tem por acréscimo a sensibilidade que lhe permite elaborar os sentimentos e emoções, e ainda a possibilidade de, por vontade própria, interromper o ciclo imposto, o que nos outros animais, e sem prova cientifica, parece acontecer apenas numa certa espécie de baleia e em algumas aves que ingerem sementes venenosas.
É entre esse misto de beleza e dor que balança o homem e os seus valores, superando uns a condição, outros não. Destes, grande parte, sem saber que nas suas ferramentas tem a chave dos próprios problemas, tenta que o outro compreenda o seu sofrimento, aproxima-se, não tanto para que lhe indiquem o caminho, mais para que aceitem e compreendam a sua natureza de seres em crise e, se tal não acontece, o ponto de ruptura é atingido e a saída do ciclo da vida pode surgir como solução única.
A ajuda atempada, em resposta ao seu grito, evita o sedimento de crises sucessivas mal resolvidas que os poderão conduzir à intenção suicidária e sua concretização.
Muitos fomos ao fundo do nosso poço e muitos saímos, sempre com feridas por sarar. Poderia fazer aqui o relato duma viagem ao fundo do meu e não o faço por razões várias, algumas capitais.
Receio encontrar lá em baixo a serenidade que me acomode, sem regresso, e teria ainda de me despir demasiado e o frio vai de rigor.
Além disso, se aqui chegaram, já leram 397 palavras e não quero abusar da vossa paciência.
OS SÁBIOS
Privei com dois cientistas tão diferentes e tão semelhantes que não resisto a recordá-los.
Ambos ambiciosos; ambos tristes; ambos esqueciam ser mortais.
Um julgava saber tudo.
Ansioso, continuava mergulhado na amargura da busca do conhecimento.
O outro julgava nada saber.
A ânsia era semelhante.
Nessa busca incessante devoravam sofregamente toda a fruta do pomar da vida, ignorando o valor do singelo bago de uva quando lentamente saboreado.
Assim passeavam-se perto da vida sem a roçar, impossibilitando a absorção de qualquer centelha de felicidade.
Supunham andar de olhos bem abertos e não viam na realidade o essencial.
Sabiam descrever cientificamente a árvore, sem usufruir da frescura da sua sombra ou escutar os segredos recontados pelas folhas e ramos à passagem da brisa e até o piar da ave jovem esfomeada no seu ninho. Não conheciam tão pouco o grito de dor quando os lenhadores a abatem a golpes de machado e, talvez envergonhados do acto, tentam abafar exclamando “madeira” (timber), a reconhecer ao gigante, mesmo ferido de morte, a capacidade de luta.
Descreviam cientificamente as formigas e os homens, não descortinando afinal que os homens se deslocam como as formigas numa correria em todas as direcções, para cá e para lá. Só que as formigas sabem para onde vão e os homens nem tanto. Além disso elas deixam o caminho limpo e os homens, por sistema, conspurcam-no
Compadeci-me, como sempre me compadeço quando deparo com alguém que não consegue criar laços. Os laços são essenciais na vida, ténues ou mal apertados que sejam.
Sempre me fizeram falta, cultivo-os quando vale a pena. Amparam a minha solidão. Não passo sem eles. Mas para criar laços é necessário saber cativar (carinho e humildade).
Atenuar aquela situação seria trabalho para a Virtude. Diz o povo que é no meio que ela está.
Perguntei-lhes se a aceitavam. Foram orgulhosos, rejeitaram. Ficaram sós.
Afinal eram néscios e, como mortais que são, um dia sairão sem as alegrias da partilha
A ESSE SER BONITO QUE É A DÊDÊ !
Neste dia, com tanto significado para ti, tenho estado a magicar quem merece os parabéns.
Primeiro pensei na tua Mãe que decerto bem os merece por ter gerado um ser como tu.
Pensei depois que só isso não seria totalmente justo. . Há em ti muito esforço para seres o que conseguiste ser com aquilo que de ti fizeram. E também pela tua generosa dádiva aos outros.
Tenho de resolver, e sendo o mérito comum, vai um grande abraço para tua Mãe e, para ti, os três beijinhos do costume do teu amigo de sempre.
Sim, este é o meu olho !
Hoje, dia de saída, não estou no emaranhado pesadelo, mudado em grande mosca e na ansia de voar além das grades.
E, com agrado e sem menosprezo pelo magnifico olho da mosca, vou apontar-lhe um senão.
Da paleta universal não retirou o matiz e, o repetir das imagens, não garante vantagens.
Se fosse mosca, calcula, nem se me dá na lembrança, quando olhasse para ti, meu amor, a ver-te sem cor, repetida, como névoa esbatida de quem anda fugida.
Quero ver-te toda inteira, nesse teu jeito de ser, com esse brilho nos olhos onde verdejam os prados e o lago de água mansa onde navegas na esperança.
Como podia encontrar-te, repetida e sem cor ?
Mergulharia na dor de perder o teu amor!
E, depois, outro senão.
Será que a mosca tem coração ?
Lá ter terá, certamente.
E cabe nele a ternura, a compaixão, o amor e até talvez a loucura ?
Na dúvida, digo que não.
Dizem que o filósofo disse:
Penso, logo existo.
Eram outros os tempos. O tempo, generoso, concedia tempo no tempo e o homem era porventura menos ambicioso.
Pesem embora as vicissitudes de que todas as épocas são prenhes, o homem permitia-se parar, rodear o erudito e escutar o seu dito ou, mesmo que de silencio se tratasse, meditar, atapetando o caminho da reflexão.
No tempo de hoje, e em abono de suposto conforto, o sistema agilmente se perverteu e no primado da busca do supérfluo, o essencial é secundário.
Tu tens ? Eu também tenho de ter... não importa o que seja.
Os próprios eruditos, creio que existam alguns, enviesam e aproveitam-se da credulidade dos seguidores na peugada do mesmo objectivo.
Assim nestes tempos de verdadeira dúvida na busca, de insegurança pessoal, haveria
necessidade de converter o dito
Viesse o filósofo a este tempo e decerto aconselharia::
Penso logo hesito.
E aos verdadeiros pessimistas:
Penso logo desisto.
Deixem-me adivinhar ! Bichinho chato e nojento!
Pois, pois, eu também pensava assim e ao ouvir o zunido para a guerra me armava (pufs-pufs e mata moscas), sabendo logo à partida estar de causa perdida.
Mas um dia lá cismei, da arma passei à lupa e na pesquisa mergulhei.
Miles de espécies, miles de formas, miles de cores.
Belo equipamento, olhos multifacetados, máquina de voar completamente computorizada e com soft a garantir perfeita e segura acrobacia, grande estabilidade no poiso, graças ao número de patas e sua fofura e ainda, pasmem, extrema elegância e finura na alimentação, sempre sugando, pela palhinha, a matéria que os seus pés gustativos aprovam. Completam, logo,logo, com apurada higiene íntima.
Predadores aos montes, aéreos e terrestres e, nestes, lugar cimeiro às aranhas e seus engenhos de pescar
Criar, destruir, criar, destruir e por aí fora...
Todavia, e malgrado este desbaste, a capacidade e rapidez reprodutiva bate todos os recordes, deixando inibido qualquer enfatuado macho latino. Os ovos, depositados em matéria orgânica a decompor, eclodem passadas 24 horas.
Este porventura o segredo da sua capacidade de fuga à extinção
Além disso elas ganharam lugar à nossa mesa, não só planando e pousando na comida, mas também integrando o prosear:
· pareces uma MOSQUINHA morta
· estavas como MOSCA no mel
· come a sopa, olha a MOSCA
· o meu chefe hoje estava com a MOSCA
· que raio de MOSCA te picou
e até na política se metem. Ah,Ah ?? Não se riam, pois isto afirmo sem rodeios; a experiência é pessoal e a fonte fidedigna. Foi o caso que nas últimas eleições, cumpridor e no intento de acertar, mas indeciso no voto, pedi conselho a aclarado técnico na matéria. Estivesse eu descansado, respondeu, votasse até de olho fechado e plantasse a cruz aos fados da sorte, convicto ele estava que a trampa era sempre a mesma, só as MOSCAS mudavam.
Dizem ser o dito corrente, só que ao corrente eu não estava e, embora reconheça às moscas esse mau hábito, tenho aqui de confessar, ser a metáfora desagradável para elas.
Aprendi que são vitais, esclarecido que fui.
Sem moscas a terra estaria coberta por plantas e animais mortos.
Tenho de fazer agora uma sutura, por estar decerto a abrir feridas nos poucos leitores dos meus escritos, tendo alguns já comentado a minha aparente solidão.
Para já os descanso, em solidão eu não estou, tenho o quarto cheio de moscas. Em vez de rede mosqueira, vejam só, gradearam a janela. De erro crasso se tratou, quase cabe minha cabeça e as moscas bem transitam.
Aos leitores ainda atentos, reitero as minhas desculpas, mesmo sem ser meu intento tenho aqui de terminar.
Chegou o meu controlador. Topou que estou com a MOSCA e atascou-me dose dupla para ficar a dormir.
Dormir ??? Claro seria óptimo, não fossem os pesadelos.
Logo fico enorme MOSCA imune aos predadores e a esvoaçar pelo quarto.
Tentativa malograda de passar aquela grade... e voar em liberdade.
E ali estava eu com o pé esquerdo pousado naquele belo e fofo solo azul celeste, polvilhado de algodão.
Êxtase e surpresa, não tanto pela inclusa sugestão da morte, mais pela benevolência da paradisíaca sentença
Todos vamos cometendo erros na travessia e temeroso andava eu pelos fogos do outro lado, que com o calor não me dou.
Logo me passou na mente a ideia peregrina de, aproveitando o momento, lá pousar o outro pé e dar uma espreitadela.
Nessa querença e com crença, meti o pé direito e no consolo de o pousar... acordei !
Acordei aos pés da cama virado. Belisquei a minha coxa e doeu. Era tudo encenação e travessura de sonho bom.
Dei a volta completa e, paciente, aguardei o regresso da alma que, de seu hábito, tardava a voltar dos devaneios nocturnos para tomar conta deste corpo e prepará-lo para novo dia que de sol era, já alto e vestido a rigor.
Não deixou de ser belo o sonho enganador. Passe a lisonja da absolvição, não deixou também de ser aviso da certeza do evento.
À cautela, e sem descuido, irei lavrar testamento dos dois lotes que me restam:
- o dos bens que a natureza me emprestou, usei moderadamente e serviram o percurso,vou legar a quem deles cuidar, recomendando o bom uso
- o do amor que me deram, encheu meu coração e deu luz ao tal percurso, esse, que me desculpem, decerto vou precisar e comigo vou levar
A Rosa foi em menina, botão de encantar.
E assim foi, sem espanto,
ficando mais bela a desabrochar
Sonho compulsivo
metida consigo, ao sol queria luar,
Gostava da noite quieta e calma
e desse luar que lhe banhava a alma.
Depois já mulher, por desgosto de amor,
perdeu-se na noite e no sonho vivido
E a desfolhar
Por lá tem andado
no labirinto do seu triste fado
Tão perdida que está já pensou em voltar
Encontrar o caminho e ao sol retornar
na esperança vã do passado encontrar.
PARA LHE VER O ROSTO
VOU TENTAR VOAR
DEPOIS VOLTO
Como prometido, voltei.
Não sendo voar tarefa de somenos, foi todavia o esforço compensado
Cheguei ao topo em plena noite de luar. Essa estranha força e a ligeira brisa, emprestavam brilho e beleza à moldura verde daquele rosto. Aqui e ali pérolas de orvalho.
Porque choras ? Perguntei.
Confidenciou-me ser a primeira vez a receber visita humana não hostil e tão próxima. Havia visto outros, ao longe, montados em estranhas aves, lá onde não se enxerga o rosto.
Confidenciou também a dor da sua imobilidade, quebrada tão somente pelos fortes ventos. E foi com sonho e tristeza que recordou os tempos em que, frondosa, abrigava os ninhos e as aves, seu deleite de então. Confiou-me assim a sua solidão e o sonho de poder voar, justificando a forma estranha do seu corpo pelo esforço das vãs tentativas de o fazer.
Trocados os nossos pesares, aconchegámo-nos num doce e longo silencio.
Logo, logo, passada essa pequena eternidade, no afago da despedida, senti que se aproveitava do orvalho para disfarçar o pranto e já no solo deixei o meu abraço naquele tronco sofrido e rugoso, forte e sensível.
Prometi voltar para continuar a ligar a sua solidão à minha, quiçá ficar.
O conhecimento da verdade é, em princípio, do interesse colectivo, levando muitos à consulta da bola de cristal, pese embora o risco dela não ser tão límpida e transparente quanto sonhada.
Por mim, como muitos outros, permito que a minha verdade e a certeza andem por aí de braço dado, porém acompanhadas da dúvida e seu benefício, cujo serviço se mostra de grande utilidade ao permitir sensatez e comedimento nas avaliações.
E isto porque penso ser indispensável a chancela da dúvida, mesmo se a verdade se reveste de aparente autenticidade.
Vejam:
Há dias, grande ajuntamento à beira da muralha, alguém se debatia, clamando por socorro. Um chapão na água e o sinistrado é salvo.
Quase todos aclamam o abnegado herói.
Duas pessoas porém conheciam uma verdade diferente.
O salvador… e eu que o empurrei.
Insisto. A verdade raramente se desnuda !
abril 07, 2006 | |
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Meu amigo, três motivos me deste para este artigo:
Os teus posts
A teoria da garrafa
O teu comentário à missão impossivel
Misturei, agitei, bati e... atrevi-me: provei.
Pergunta a que me soube! No fundo é uma mistura de sofrimento, dor, amargura, afastamento, presença, serenidade e luta, repouso e agitação, a que houve o cuidado de aplicar uma boa dose de faz de conta e, porque não, de afecto, amizade, amor, para que borbulhe quando ferve.
E não me parece dificil encontrar tudo isto, e muito mais, num único ser. Antes de sermos empurrados para esta colónia penal, somos devidamente abastecidos e apetrechados não só para utilizar toda esta panóplia de ferramentas mas também para sentir os efeitos do seu uso. E o uso deste arsenal se imoderado pode destruir, manter, endurecer ou...
Cá por mim, sou guloso, tenho-me servido de quase tudo, e acumulo com alguma humildade, o que, apesar disso, me deixa a dúvida quando olho à volta.
O sentimento é de egoismo ou de privilégio ? Afinal neste mar de sofrimento, pese embora o mau piso e as pancadas sofridas, ainda aceito e vou mantendo a cabeça fora de água, De certo, e apesar de, sou privilegiado!
Será, como dizes, que ainda me resta a esperança de ser ouvido (lido) ou aquilo é apenas o resultado da tal humana condição e da necessidade de conseguir companhia para o meu grito ?
A dúvida é mais uma das ferramentas que vamos usando.
Ah, e já agora, a garrafa para mim, e hoje, está meia cheia.
Alguém me chamou de besta !
Meses antes via em mim um ser bonito (leia-se sensivel).
Foi útil a intenção de raiva ou insulto.
Permitiu questionar-me:
Afinal somos aquilo que pensamos ou gostariamos de ser ou somos apenas validados pelos outros nos seus espelhos mutantes?
Não resisti a colocar esta imagem. Não terá a ver com o texto.
É contudo bela e repousante e no seu movimento assemelhará o paraíso onde decorre a pequena história de autor desconhecido, colhida num livro de humor.
"S.Pedro acolheu uma boa alma que de imediato lhe pediu ocupação.
Toma esta colher, meu filho, e vai despejar aquele oceano.
Passados cinco mil anos a alma, missão cumprida, solicitou nova tarefa.
Toma este garfo, meu filho, e vai aplanar aquela montanha.
Sete mil anos após, cumprida a missão, aquela alma rogava nova tarefa.
S,Pedro, já agastado, exclamou: Olha JESUS, se queres trabalho para toda a eternidade vai à Terra e tenta espalhar o amor entre os Homens."
Sorrimos, encerra verdade e tem graça ! Mas que é triste, não resta dúvida.
height=360 alt="jardim certo.jpg" src="http://versussolidao.blogs.sapo.pt/arquivo/jardim certo.jpg" width=201 border=0>
face=arial size=4>A MINHA ALMA É O MEU JARDIM
CHOREI TANTO... TANTO... TANTO...
SEM QUEIXUME, SEM LAMENTO,
SEM PRANTO, SÓ SENTIMENTO
CHOREI TANTO... TANTO... TANTO...
QUE SE A MORTE ALI PASSASSE
TALVEZ ATÉ ME LEVASSE
Toda prenhe de candura, tímida chama, calor
Só enlevo, só ternura, a crepitar no amor
É depois a chama forte numa louca fantasia
Há desprezo pela morte, há ilusão, há magia !
Vermelhos e amarelos, de braço dado a saltar,
Tão ingénuos e tão belos, numa volúpia sem par.
E em tanto movimento, nasce o aviso da queda
Que faz ouvir o lamento, no pico da labareda
Logo, logo, a amargura, e por vezes tanta dor,
Vão sufocar a ternura e os momentos d´amor
Baixa o fogo e a herança, são brazidos em modorra
Jaz ali a falsa esperança Talvez viva ! Talvez morra
E o fumo, seu ritual, que a suave brisa espalha
E OS MORTOS
Num daqueles dias em que corpo e alma não se entendem, vagueava a tristeza por aí, quando algo insólito quebrou o silêncio. Longo trinado chamou minha atenção! Olhei e, ali, a sete metros de altura descortinei um bico amarelo a adornar uma cabeça preta de olhinhos postos em mim, expectante como quem pede resposta..
Uma pequena chama de felicidade havia permitido descolar-me de problemas impostos na busca do supérfluo, quando o essencial morava mesmo ao lado.
ANSIA DE ENCONTRAR PAZ
NÃO DAQUELE QUE JAZ
ANTES NA SERENIDADE
DA ETERNIDADE
OUTRA LUTA SOLITÁRIA PELA SOBREVIVÊNCIA.
Os humanos agem, habitualmente, de forma diversa.
Complicam.
Subjugam, criam, abatem, retalham.
Ao devorar requintam.
O prato, o talher, o vinho certo, a especiaria, o molho.
Também habitualmente fazem-no em grupo. Sorriem.
Na essência, pese embora disfarçada de poder, a mesma trágica servidão.
Ao Luís
No caír da folha.
Ajudou-me a sentir a solidão dos outros e assim situar a minha.
Depois, e no percurso, aprendi que, a final e na sua essência, é um músculo valente, ou um valente músculo, capaz e responsável pela distribuição metódica e regular do fluido vital.
Mas o sonho de menino não foi de todo desfeito pelas agruras do caminho e do conhecimento.
A subtil consciência (talvez num arremedo de gratidão) empresta e atribue ao coração toda uma panóplia de emoções, fazendo dele fiel depositário da ternura e do amor, do sacrifício e da entrega.
É normal ouvir dizer que um ser tem bom coração, quando em prática de boas acções, sendo as más relegadas para o fígado (então o sujeito terá maus fígados). Também verdade parece que esta quimera não será igualmente vivida por todos.
São privilegiados os seres que no fosso do sofrimento mantém o espirito livre, tentando substituir por ternura, compreensão e amor a nefasta raiva, desespero e ódio.
Esses vão encontrar no coração o sentido do sem sentido da vida.
Perguntarão vocês o que tem isto a ver com o LUÍS.
Creiam que muito!
O Luís é um dos seres, que de há muitos anos para cá, semanalmente, me foi tocando e por tal tem lugar cativo quando no meu coração se canta o hino dos afectos.
Se me fosse permitido separar a humanidade em duas partes, os loucos e os outros, e, por modéstia, me colocasse no sector dos outros, restar-me-ia a angustia de não saber o que eles sabem que eu não sei.
Creio que são como algumas estrelas.
Mesmo não se vendo, estão lá.
Fico preocupado com as estrelas que, embora aparentes, já não existem !
Cruzei-me há dias com uma formiga e pedi-lhe opinião sobre os humanos.
Alguns são piores que a cigarra, foi a resposta.
Sem argumentação, e triste, agradeci e segui caminho.
Vão longe esses Natais de sonhos realizados.
De dia, e por liberalidade dos Sapadores Bombeiros, um embrulho de cores brilhantes, ciosa e cuidadosamente sobraçado e, à noite, a magia duma repleta chaminé dum familiar abastado, onde o meu sapato colheria outro modesto presente.
Sempre simples e modestos mas eram o prémio do sonho, sonhado e afinal realizado entre as diversas fantasias do faz de conta.
Ao relembrar, tentei recrear, procurei o fato, o gorro, as botas, antecipadamente deixara crescer a barba, branca e natural como convinha, e tentei... tentei sem exito alcançar as renas.
Outro sonho, como tantos outros que não vou realizar.
Sem alma e frios, fiéis e constantes, se não concavos ou convexos. singularmente diferentes dos humanos.
Estes, por vezes, quando nos cruzam, e num arremedo benévolo de iludir o óbvio, pensam (estás mesmo em baixo) e traduzem (que óptimo, o que andas a tomar ?).
Os espelhos não !... não nos iludem as expectativas, directos e concisos, são bons companheiros e, ocasionalmente, arrastam-me ao monologo.
Ultimamente matuto num insólito senão.
Quando os fito, e pese embora sinta em mim o menino que porventura fui, não o descortino na imagem devolvida.
Será que não cheguei a ser menino ?
Alguém que me ama, na sua limpida e candida ternura, perguntou se não me sentia triste por viver só.
Respondi que não estava só porque a guardava no meu coração !
Li que Chico Buarque, disse em entrevista:
"A verdadeira solidão é quando nos perdemos de nós próprios e em vão procuramos a nossa alma."
E acrescenta que
"Solidão não é falta de gente para conversar, namorar passear ou fazer sexo... isso é CARÊNCIA.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... isso é SAUDADE.
Solidão não é o retiro voluntário a que nos impomos às vezes para realinhar os nossos pensamentos... isso é EQUILIBRIO.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe convulsivamente... isso é um PRINCIPIO DA NATUREZA.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... isso é CIRCUNSTANCIA."
E poderiamos talvez acrescentar tantas outras solidões que afinal tem outro nome e sentido !
Mas a verdadeira... essa parece-me a queda num poço sem fundo !