A Rosa foi em menina, botão de encantar.
E assim foi, sem espanto,
ficando mais bela a desabrochar
Sonho compulsivo
metida consigo, ao sol queria luar,
Gostava da noite quieta e calma
e desse luar que lhe banhava a alma.
Depois já mulher, por desgosto de amor,
perdeu-se na noite e no sonho vivido
E a desfolhar
Por lá tem andado
no labirinto do seu triste fado
Tão perdida que está já pensou em voltar
Encontrar o caminho e ao sol retornar
na esperança vã do passado encontrar.
PARA LHE VER O ROSTO
VOU TENTAR VOAR
DEPOIS VOLTO
Como prometido, voltei.
Não sendo voar tarefa de somenos, foi todavia o esforço compensado
Cheguei ao topo em plena noite de luar. Essa estranha força e a ligeira brisa, emprestavam brilho e beleza à moldura verde daquele rosto. Aqui e ali pérolas de orvalho.
Porque choras ? Perguntei.
Confidenciou-me ser a primeira vez a receber visita humana não hostil e tão próxima. Havia visto outros, ao longe, montados em estranhas aves, lá onde não se enxerga o rosto.
Confidenciou também a dor da sua imobilidade, quebrada tão somente pelos fortes ventos. E foi com sonho e tristeza que recordou os tempos em que, frondosa, abrigava os ninhos e as aves, seu deleite de então. Confiou-me assim a sua solidão e o sonho de poder voar, justificando a forma estranha do seu corpo pelo esforço das vãs tentativas de o fazer.
Trocados os nossos pesares, aconchegámo-nos num doce e longo silencio.
Logo, logo, passada essa pequena eternidade, no afago da despedida, senti que se aproveitava do orvalho para disfarçar o pranto e já no solo deixei o meu abraço naquele tronco sofrido e rugoso, forte e sensível.
Prometi voltar para continuar a ligar a sua solidão à minha, quiçá ficar.